Passagens da Bíblia sobre os tipos de amor

Amor: o homem moderno usa e abusa desta palavra, mas poucas vezes pensa em seu verdadeiro significado.

Desde a filosofia grega, o amor foi refletido em graus e tonalidades diferentes, isto porque nós, seres humanos, somos capazes de manifestar diferentes tipos de amor, seja do “amor animal” até o amor sobrenatural”.

Nas Sagradas Escrituras podemos ver exemplos destes mais diversos tipos de amor. Vejamos a seguir.

“Amor animal”, de concupiscência

São Tomás de Aquino, na Suma Teológica nos explica que o amor de concupiscência [1] é o amor voltado à si mesmo.

Como diz o Filósofo, “amar é querer bem a alguém.”

Se amamos algo visando o nosso próprio bem, este é classificado como amor de concupiscência.

Este tipo de amor é próprio da natureza animal, por exemplo: quando o leão é atraído pela gazela, trata-se de amor de concupiscência: ele quer a gazela para si. Outro exemplo, trazendo para os seres humanos, é de uma pessoa gosta de vinho. Certamente esta pessoa não ama o vinho por lhe querer bem, mas pela satisfação que este vinho lhe dá, isto é amor de concupiscência.

Esta forma de amar não se limita somente a objetos mas pode chegar a relação com outros seres humanos, tornando este amor o mais imperfeito e até muitas vezes pecaminoso. Por exemplo:

  • Quando nos aproximamos de uma pessoa pelo bem, seja financeiro ou até carnal, e unicamente por isso, neste caso você não a deseja bem mas deseja apenas o prazer.

O amor de concupiscência em si não é pecado, afinal de contas, gostar de tomar vinho ou de comer um churrasco não é ruim, porém este ato pode tornar-se pecaminoso quando alimentamos este gosto por egoísmo ou prazer excessivo, colocando a nossa felicidade nisto, por exemplo: tomar vinho até se embriagar ou comer exageradamente churrasco até passar mal, o que ocasiona o pecado da gula.

Nas Sagradas Escrituras somos alertados sobre outras ocasiões em que o amor de concupiscência torna-se pecaminoso:

  • “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo: todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher já adulterou com ela em seu coração.” (Mt 5, 27-28)

    Aqui Jesus nos adverte quanto a cobiçar outra pessoa pelo prazer sexual que esta pode lhe ocasionar. É válido ressaltar que este desejo, assim como o ato, é pecaminoso mesmo para aqueles que não são casados, já que em ambos os casos se configura na transgressão do 6° Mandamento da Lei de Deus: não pecar contra a castidade e ao 9° Mandamento: Não desejar a mulher do próximo.

  • “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza.” (Mt 6, 24)

    Neste versículo Jesus nos adverte sobre a idolatria ao dinheiro e aos bens materiais, amando-os acima de tudo por ganância e pelos prazeres que este pode comprar.

“Amor natural”, de benevolência

Trazemos novamente a citação feita por São Tomás de Aquino: “amar é querer bem a alguém”.

Enquanto o amor de concupiscência volta-se para o próprio bem, o amor de benevolência volta-se para uma pessoa a quem o amante quer o bem, ou seja, volta-se para o próximo. Este amor, ao contrário daquele que vimos anteriormente, é dedicado exclusivamente para pessoas sendo, portanto, de grau mais elevado.

É amor de benevolência, por exemplo, o amor que os pais têm pelos seus filhos, amor pelo qual deseja a eles o bem.

Pe. Gabriel Billecocq, FSSPX, vai nos explicar ainda sobre outro tipo de amor que entra na classificação de amor de benevolência: a amizade.

A amizade é um amor de benevolência, mas um amor de benevolência particular. A amizade acrescenta, com efeito, à benevolência uma reciprocidade: o amante quer o bem do amado e o amado quer o bem do amante.

Todo amor de benevolência não é necessariamente recíproco. O mestre ou o professor tem pelos seus discípulos um verdadeiro amor de benevolência que, infelizmente, nem sempre é retribuído... A amizade, ao contrário, pressupõe a reciprocidade, porque o amigo é amigo do seu amigo!

Essa reciprocidade merece ser explicitada. Com efeito, para que exista uma benevolência recíproca, é preciso que haja uma troca, algo de comum sobre o qual essa reciprocidade vai ser exercida. Dito de outro modo, existe um bem comum, uma comunhão de bens que permite, aos dois amigos, essa troca de amor.

Assim, toda amizade é um amor de benevolência recíproca, fundada em alguma comunhão ou comunicação de um bem.” [2]

Nas Sagradas Escrituras podemos observar alguns exemplos de amor de benevolência:

  • “Fui um verdadeiro filho para meu pai, terno e amado junto de minha mãe. Deu-me ele este conselho: “Que teu coração retenha minhas palavras; guarda meus preceitos e viverás. Adquire sabedoria, adquire perspicácia, não te esqueças de nada, não te desvies de meus conselhos.”” (Provérbios 4, 3-5)

  • “Meu filho, ouve as minhas palavras, inclina teu ouvido aos meus discursos. Que eles não se afastem dos teus olhos, conserva-os no íntimo do teu coração, pois são vida para aqueles que os encontram, saúde para todo corpo.” (Provérbios 4, 20-22)

  • “O amigo ama em todo o tempo: na desgraça, ele se torna um irmão.” (Provérbios 17, 17)

  • “Se um vem a cair, o outro o levanta. Mas ai do homem só: se ele cair, não há ninguém para levantá-lo. Da mesma forma, se dormirem dois juntos, aquecem-se; mas um homem só, como se há de aquecer? Se é possível dominar o homem que está sozinho, dois podem resistir ao agressor. Uma corda tripla não se rompe facilmente.” (Eclesiastes 4, 10-12)

  • "Assim como o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro." (Provérbios 27, 17)

“Amor sobrenatural”, a Caridade

A Caridade é o mais elevado tipo de amor, isto porque ele provém do próprio Deus. São João diz que: “Deus é amor”. Do latim, “Deus caritas est” (1 João 4,8). Dado isto podemos definir a Caridade como o Amor divino, o Amor que o próprio Deus é.

Ao falar de Caridade não estamos nos referindo às obras filantrópicas, mas sim do amor que nos é transmitido pelo próprio Deus. Voltando à São Tomás de Aquino, o Pe. Gabriel Billecocq, assim define a caridade:

[…] Santo Tomás responde de modo tão lapidar, que é quase desconcertante! “Portanto, quando há uma comunhão de bens entre o homem e Deus, posto que Deus nos faz partilhar a sua beatitude, resulta que essa partilha implica em uma amizade.”

O bem comunicado é a beatitude de Deus. Dito de outro modo: o bem comunicado é a própria vida de Deus. Eis o que é a caridade. Um amor recíproco entre Deus e o homem fundado na vida divina, que nos é comunicada pela graça!

Quanta riqueza numa simples definição! Antes de mais nada, a caridade é um amor de Deus, amor pelo qual amamos a Deus tal como Ele se ama, posto que Deus é caridade. Que grande mistério, uma reciprocidade entre Deus e sua criatura!

Deus criou em nós a capacidade de amar (eis o porquê desse amor ser sobrenatural, essa capacidade excede nosso simples poder) e de amá-lo tal como Deus é na intimidade da sua vida trinitária (eis outra razão da caridade ser sobrenatural: o seu objeto está fora do nosso alcance, sendo inacessível e incognoscível a nossa vontade e conhecimento). Compreende-se também que, para viver de caridade, é preciso viver da graça, posto que essa última é uma participação na vida divina. Sem a graça, não há caridade, simplesmente porque não há mais nada de comum entre o homem e Deus. O simples fato de amar a Deus como nosso criador não basta tampouco para definir a caridade, posto que ela excede as capacidades da natureza humana, que não alcança a intimidade divina.

Se compreendemos bem em que consiste a caridade, podemos então nos perguntar em que consiste a caridade pelo próximo. Será ela possível, uma vez que a caridade é o amor recíproco entre o homem e Deus?

 

O amor ao próximo

Nosso Senhor, que nada diz em vão, acrescentou este pequeno inciso a propósito do mandamento de amar a Deus: “E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo(Mt 22, 39)

Tudo está dito com a palavra semelhante! Não há duas virtudes de caridade. Há uma só que consiste em amar a Deus como Ele se ama, e amar a Deus no próximo por Deus e em Deus.

Tudo permanece sobrenatural no amor ao próximo. O que visa a caridade pelo próximo, não é o seu bem estar material, a quantidade de arroz na mesa ou a qualidade das cobertas com que passará a noite. Isso pode até fazer parte, mas não é o principal. O que define a caridade fraterna é a mesma comunicação que existe na caridade com Deus: a beatitude ou a vida de Deus.

Amar ao próximo é desejar-lhe a graça e a vida divina, é entretê-la nele. Amar ao próximo é ver nele a obra de Deus, por vezes ainda não iniciada, mas a ser começada. Amar ao próximo de modo material é predispor-lhe a receber o amor de Deus, pois aí está a felicidade de Deus a que o homem é chamado. [3]

Mais do que a qualquer outro tipo de amor, nas Sagradas Escrituras a caridade é amplamente citada. Vejamos alguns exemplos:

  • “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.

    Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e co­nhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada.

    Ainda que distribuís­se todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!

    A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante.

    Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor.

    Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade.

    Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

    A caridade jamais acabará.” ( I Cor 13, 1-8)

  • “Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Rm 8, 38-39)

  • “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele.” (Jo 3, 16-17)

  • “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.” (1 Jo 4, 7-8)

  • “Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem para conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele.” (1 Jo 4, 16)

  • “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai. Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça. Eu assim vos constituí, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos conceda.” (Jo 15, 15-16)

  • “Como o Pai me ama, assim também eu vos amo. Perseverai no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu amor, como também eu guardei os mandamentos de meu Pai e persisto no seu amor.” (Jo 15, 9-10)

  • “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos.” (Jo 15, 12-13)

Referências

Todos os versículos foram retirados da Bíblia Ave Maria

[1] São Tomás de Aquino. Suma Teológica. Ia IIae pars. Questão 26. Art. 4 ― Se o amor se divide convenientemente em amor de amizade e de concupiscência.

[2] e [3] Pe. Gabriel Billecocq, FSSPX. Le Chardonnet no. 362 – Tradução: Permanência

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