Entendendo as práticas do jejum e da abstinência

"No momento favorável eu te ouvi, no dia da salvação, te socorri. É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação". (2Cor 6,20)

Chegou para nós o tempo da Quaresma, tempo este de conversão e vida nova. O momento favorável em que somos convidados a voltar-nos a nós mesmos, ou seja, um momento de observar mais intimamente o nosso interior, a nossa alma, afim de que, renunciando concretamente aos prazeres da carne possamos nos preparar para a vida eterna que nos espera.

Durante estes quarenta dias somos convidados pela Igreja a intensificar nossa vida de oração por meio de três práticas essenciais: o jejum, a oração e a caridade. Porém, quando falamos de jejum - que nos recorda quase que automaticamente da abstinência - é comum surgir em nós algumas dúvidas. Pensando nisso nós da Equipe Nossa Sagrada Família, separamos para você este artigo apresentando tudo o que você precisa saber sobre estas práticas tão importantes para a nossa vida espiritual.

O que a Igreja diz sobre o jejum?

Em consonância com o 4° Mandamento da Igreja, o qual diz que cada um deve "jejuar e abster-se de carne, como manda a Santa Mãe Igreja", o Código de Direito Canônico deixa estipulado o que devemos viver nos dias penitenciais (cf. cân. 1249-1253):

“Cân. 1249: Todos os fiéis, cada qual a seu modo, estão obrigados por lei divina a fazer penitência, mas para que todos estejam unidos mediante certa observância comum da penitência, são prescritos dias penitenciais em que os fiéis se dediquem de modo especial à oração, façam obras de piedade e caridade, renunciem a si mesmos, cumprindo ainda mais fielmente as próprias obrigações e observando, principalmente, o jejum e a abstinência, de acordo com os cânones seguintes.

Cân. 1250: Os dias e tempos penitenciais, em toda a Igreja, são todas as sextas-feiras do ano e o tempo da Quaresma.

Cân. 1251: Observe-se a abstinência de carne ou de outro alimento, segundo as prescrições da Conferência dos Bispos, em todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades; observem-se a abstinência e o jejum na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Mas o que é realmente o Jejum?

O jejum consiste no sacrifício de renunciar às refeições normais, limitando-as ao básico. Acompanhado pela oração, ele serve para manifestar a humildade diante de Deus: aquele que jejua volta-se para o Senhor numa atitude de dependência e abandono total.

Na Sagrada Escritura, vemos as pessoas jejuarem e realizarem outras obras de penitência antes de empreenderem uma tarefa difícil, para implorarem o perdão de uma culpa, obterem o fim de uma calamidade, conseguirem a graça necessária para o cumprimento de uma missão, prepararem-se para o encontro com Deus.

Quem pode fazer o jejum?

São chamadas ao jejum as pessoas que possuem entre dezoito e cinquenta e nove anos completos. Os demais podem fazer, mas sem obrigação.

Grávidas e doentes estão dispensados do jejum, bem como aqueles que desenvolvem árduo trabalho braçal ou intelectual no dia.

Essa orientação vale para a Quarta-feira de Cinzas, para as demais sextas-feiras da Quaresma e para a Sexta-feira da Paixão.

Água e remédios são permitidos em qualquer tipo de jejum, dentro e fora do tempo da quaresma.

Quais são os tipos de jejum?

Para não se fugir à orientação da Igreja, este jejum pode ser tornado mais rigoroso, mas não atenuado. Pode-se, caso sirva para vivê-lo melhor, fazer outros tipos de jejum conhecidos, tais quais:

  • Jejum da Igreja: Fazer uma refeição principal (almoço ou jantar) e comer um pouco nas outras, duas, desde que as duas juntas não equivalham a uma refeição completa.

  • Jejum a pão e água: Também conhecido como jejum bíblico, fazê-lo à base de pão e água durante o dia.

  • Jejum à base de líquidos: tais quais chás, sucos, laticínios, menos caldos.

  • Jejum completo: neste só é permitido água durante o dia.

E para ser o jejum que é prescrito, necessariamente referir-se-á à alimentação. As demais mortificações, ou penitências, podem ser bem vindas, porém não são jejum.

Quando fazer jejum?

  1. Quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor: são os dois dias do ano em que a Igreja define jejum e abstinência obrigatórios.

  2. Sextas-feiras da Quaresma (que estão entre os dias assinalados pelo calendário antigo como Sextas-feiras das Têmporas): jejum recomendado e abstinência obrigatória.

  3. Demais dias da Quaresma, EXCETO domingos: jejum e abstinência parcial recomendados.

  4. Demais sextas-feiras do ano, EXCETO se forem Solenidades: abstinência obrigatória, mas não é obrigatório o jejum.

Para ficar mais claro ainda: Se alguma solenidade da Igreja cair na sexta-feira, mesmo dentro da Quaresma, não se tem jejum e nem abstinência.

O que é a abstinência?

A abstinência consiste em não comer carne de animais de sangue quente, nem molhos ou sopas à base dessas carnes. Entende-se como animais de sangue quente as aves e os mamíferos.

Permite-se o uso de ovos, laticínios e gordura. Nos dias prescritos, o jejum feito, ou que se esteja fazendo, não desobriga a abstinência durante todo o dia.

Quem deve fazer abstinência?

Estão obrigados à abstinência os que tiverem completado quatorze anos, e tal obrigação se prolonga por toda a vida. Além disso, grávidas que necessitem de maior nutrição e doentes que, por conselho médico, precisam comer carne, estão dispensados da abstinência, bem como os pobres que recebem carne por esmola.

Quando a Igreja nos manda fazer abstinência de carne?

Confira resposta no cânon 251: “observe-se a abstinência de carne ou de outro alimento, segundo as prescrições da Conferência dos Bispos, em todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades; observem-se a abstinência e o jejum na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.”

Atente-se à prescrição da Conferência dos Bispos aqui do Brasil, que permite a substituição da abstinência de carne por uma obra de caridade, um ato de piedade ou comutar a carne por um outro alimento. Assim, vê-se que é obrigatória a abstinência nas sextas-feiras prescritas, mas não necessariamente de carne, por conta do que é prescrito para o Brasil.

Por fim, é importante ressaltar que, ao jejuar ou abster-se de carne, ou mesmo ao fazer toda e qualquer penitência é de suma importância oferecer com alegria a Deus, vivendo este dia com o espírito de oração e, se possível, na participação ativa dos sacramentos. Em dias de penitência não murmure, antes tenha sempre em mente as palavras do próprio Cristo:

Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus.

Quando jejuardes, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto, para que os homens vejam que estão jejuando. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os homens não vejam que estás jejuando, mas somente teu Pai, que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa”. (Mt 6, 1. 16-18)

Referências

  1. https://pt.aleteia.org/2021/03/03/qual-e-a-verdadeira-doutrina-catolica-sobre-o-jejum/

  2. https://pt.aleteia.org/2021/02/26/a-diferenca-entre-o-jejum-e-a-abstinencia/

  3. https://comshalom.org/normas-basicas-para-o-jejum-da-quaresma/

  4. https://institutohesed.org.br/tempo-de-penitencia-2/

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